terça-feira, agosto 20, 2013

Quinta Intercorrência


Perdi um poema de bobeira
Ele se foi
Se foi na memória do que já era
Se foi porque nem eu sei o que fui quando o escrevi
Só lembro que ele falava de dois lados
Um cá e outro lá
Como uma dança
Era o poema mais dançante que já se escreveu
Mas foi
Como todos os outros poemas que não escrevo
Perdeu em cima da rima o sentido do campo
Perdeu o cheiro de flor que tinha
O desejo de mudança também se foi
Pra lá ou pra cá?
Eram dois
Uma divisão tosca que o colocava no meio do caminho
Tangia o que deveria ser dito
Na verdade o poema só queria mesmo se perder
E assim foi
Era uma vez um poema

quarta-feira, maio 22, 2013

Quarta intercorrência


Existiam os coronéis
Existia a fome
Existia também muita paixão
Então

Só podia mesmo se revoltar

Tanta diferença e cores tão bonitas
Tanta alegria e tristeza no mesmo telhado
Tanta contradição
Então

Só podia mesmo se revoltar

Só podia mesmo ter volta

Revolta

sexta-feira, março 01, 2013

Terceira intercorrência


No mundo existia pregos e pingos de esperança



Vi tristeza no corpo da calçada
No olhar não tinha mais lágrima
A vida estava seca

...
Ninguém sabe por que ele chora
Alguém sequer lembra dele quando chega
Fica esquecido no meio dos lixos da cidade grande
Ressecou o choro mais uma vez

A nuvem que às vezes cobre o sol que no céu navega
Carrega consigo o tempo que não para de parar
O dia que amanhece às vezes esquece-se de despertar
Porque depois de meia hora chega a pancada pra ferir e deixar marcas

O sono que não existe na noite sofre constrangimentos
Quer deixar de acreditar na esperança
Lembra-se de sonhos de infância
Entra na fantasia telepática

Nem sabe por que olha, ouve, fala e sente
Queria mesmo não notar nada, ser irracional
Animais mesmo não se indignam?
Ou são animais os que destroem o mundo humano?

domingo, fevereiro 24, 2013

Segunda intercorrência



Sabe-se lá o que é liberdade.
Essa coisa só tem nome porque ninguém achou outro código para que ela tivesse lato sensu.

Tentando reduzir o significado da palavra felicidade no dicionário “nosso de cada dia”, pode-se dizer que ela é a impressão de que nada mais se pode fazer. Liberdade também limita. Nem o existencialismo mais chulo reduziria a liberdade como voo. Quando se voa, uma vez se para. Não conheço nenhum pássaro que voe eternamente. Ele já começa parado, então a eternidade só poderia estar presente caso a vida fosse ligada. Mas a impressão que dá é que algo se apaga. Pelo menos agora. Se alguns justificam colocando que isso está guardado, eu respondo que me dá uma surpresa quando percebo que fiz algo que pode dar certo. O sentido da liberdade mesmo é não ter sentido. A liberdade se perde em seu significado. Ela deixa de lado o que produziria sua própria liberdade de existir ou sentir. Isso porque tem vezes que a gente sente sem viver e vive sem sentir. O primeiro caso pode ser considerado como as emoções que transbordam a existência, escapando pela tangente do sentimento. O segundo caso são as anestesias, os sentimentos guardados, que alguns chamam de trauma. Esse ultimo parece ferida mal cicatrizada. Ainda assim eu me permito dizer: “Se existe algo além que explique o que é liberdade, peço a manutenção do segredo em respeito às vidas humanas!” Não é necessário espalhar as verdades para o homem que, em sua forma de organização atual, só reprime. 

domingo, fevereiro 03, 2013

Primeira intercorrência


Teve um dia que meu pé esquerdo estava tão grande, tão grande, que eu nem pude contar com ele. Estava perdido em lágrimas. A pele estava inchada ao ponto de que meu pé parecia o maior de todos os pés do mundo. E no mundo tinham muitos pés e em cada pé, cordões se ligavam no sangue e esse sangue fervia no cérebro de cada pé. Eram muitos pés grandes, pequenos, médios e inchados. Todos eles possuíam cinco dedos e um dedo se destacava apontando sempre pra frente.
O bom é que no mundo dos pés, os dedões se encontram. Eles, os dedões, se esbarram como que num meio de um monte de dedões e parece dançar com o pouco espaço que possuem. Quando um pé desse se esbarra com outro de um tamanho diferente, eis que o mundo dos pés reage e sofre com a mudança que precisa acontecer. Os pés assim evoluem. O encontro é soma do que era um e ameaça para a partida de dois e depois três, quatro, cinco, seis...